quinta-feira, 19 de abril de 2012

IN GREED WE TRUST

"Estamos dispostos a suprimir a Política, para a substituir pela Moral. É o que chamamos uma Revolução"

Albert Camus

1. Para além de ser a direita mais estúpida da Europa (quiçá, do Mundo), a direita portuguesa é também a mais ignorante e analfabeta. A ela se pode aplicar o célebre dito que se aplicava aos Bourbons: "Não aprenderam nada, não esqueceram nada". O sinal mais evidente da sua estupidez e ignorância, além de outras "virtudes" que não me apetece enumerar, é a falta de memória histórica. De facto, esta canalha ignara está a levar a cabo um trabalho de destruição de estruturas e determinações que levaram séculos a construir, não sabendo eles que só o que tem história pode ser definido. Enfim, a estupidez e a ignorância não são um crime, nem uma desculpabilização; do ponto de vista ético essas características são neutras. O que deixa de ser neutro, passando a ser criminoso, é o facto de o governo - vamos chamar-lhe assim, para efeitos de conversa - ocupado por esta gente, utilizar a estupidez e a ignorância para poderem levar a cabo a sua "obra ao negro". Desenganem-se aqueles que pensam que esta gente tem um programa ideológico; para tal, era necessário que tivessem ideologia e esta, por sua vez, pressupõe ideias. Não, o que esta gente tem é uma missão a cumprir, consistindo no empobrecimento da população do país, no enfraquecimento da sua força laboral e na entrega dos recursos à canalha hedionda e aos mesmos bandalhos que nos conduziram a esta situação: banqueiros, financeiros, políticos corruptos e demais gentalha sem honra, sem escrúpulos e sem moral.

2. Notícias do CDS, uma boa e outra assim-assim. Primeiro a boa: o finório do portas continua desaparecido e para mim está bem assim. Só que ainda me lembro quando o rei dos garnizés ia a Espanha atestar o depósito de combustível, acompanhado de numerosos jornalistas, protestando com voz esganiçada e olhinhos em alvo contra o preço dos combustíveis em Portugal e a inoperância do governo nessa matéria. Outros tempos e outras moralidades... Ou quando, tomando para si as dores das grávidas e das parturientes, protestava contra o fecho das maternidades, sempre com a boca cheia de "sentido de Estado", "bem público" e outras baboseiras do mesmo género. E também me lembro quando andava pelas feiras, a defender a "lavoura" (ou seriam antes os "lavouradores" ?), protestando em biquinhos de pés contra o atraso do pagamento das indemnizações. O que nos leva à notícia assim-assim: enquanto o país permanece em seca extrema e severa, a cristas, coitadita,  continua a ir a reuniões em Bruxelas. À saída, esforçada e fervorosa, lá vai dizendo que "a reunião correu muito bem, foi muito produtiva, as medidas estão muito bem encaminhadas". No entanto, passados vários meses e dezenas de reuniões, nem uma só medida foi implementada, não passando de retórica e anúncios ocos de rápida resolução de todos os problemas da agricultura/lavoura, para além das pescas, do ambiente e da ordenação do território. Perdão, esquecia-me de um grande sucesso: o gasparzinho inventou mais um imposto (o da segurança dos bens alimentares) e a cristas já o anunciou com pompa e circunstância.

3. Confesso, gasparzinho, tu aborresce-me de morte. Não é tanto porque nos foste vendido como um génio e uma sumidade que iria resolver quase todos os problemas do país, uma espécie de Nobel da Economia que poderíamos ter pelo preço irrisório de um salário de ministro e, por fim, te tenhas revelado tão incompetente como todos os outros; não é sequer pela tua profunda fealdade, por esse corpo raquítico e enfezado, nem pelas tuas expressões grotescas que revelam que és tão feio por dentro como por fora, uma fealdade que se completa com uma gesticulação ridícula e descabida; não é pelas tuas piadas parvas e pífias, que conferem uma nova definição ao conceito de parvoíce, como aquela de explicares aos deputados e à Nação que 2015 virá a seguir a 2014; não é pelo teu modo de falar, pausado e vagaroso, que apenas serve para disfarçar o facto de não teres nada para dizer; não é pelo facto de seres uma não-personagem, um santo com pés de barro, nem por seres nefasto e fazeres mal à saúde; nem por seres um cego conduzindo outros cegos para o abismo. Também não é por me provocares uma avassaladora fúria homicida cada vez que tenho o desprazer de te ver, eu que sou o mais pacífico dos seres humanos, nem por me instilares cólera e ira, a mim que sou um cidadão cordato. Essencialmente, é por me obrigares a explicar-te as coisas de um modo didático e sendo-o, poder parecer pedante ou ridiculamente erudito. Isto porque me obrigas a explicar-te as coisas tal como julgas explicar-nos: como se fôssemos parvos ou atrasados mentais e tu fosses a suprema inteligência num mar de indig~encia mental, como se todos nós tivessemos a idade mental dos teus lacaios (tens que concordar que a supracitada piada do 2015 a seguir ao 2014, além de parva, fez-te descer à categoria do palhaço rico a gozar com o palhaço pobre, uma coisa tristíssima, pindérica, labrega, que ridiculariza quem procura gozar e não o suposto gozado), como eu dizia, obrigas-me a explicar-te tudo. Assim, vou falar de pessoas de quem tu nunca ouviste falar, protagonistas e visões e autores de pensamentos que nem ousas sonhar. Uma delas chama-se Hannah Arendt, discípula de Martin Heidegger (este fica para depois, agora não tenho tempo nem paciência para te explicar quem foi) e uma das intelig~encias mais poderosas do século XX. Se tivesses lido "As Origens do Totalitarismo", terias percebido que a tese central do seu pensamento consiste na consideração de um estado totalitário como um sistema em ruptura radical com o senso comum, que este é inseparável da interrogação sobre o sentido e sobre o sentido dos lçimites. Se não percebeste, levanta o bracinho e eu volto a explicar. Longe de mim comparar-te a Eichmann nos métodos : o alemão matava 5 ou 6 mil pessoas por dia, através de métodos violentos; tu, pelo contrário, asfixias lentamente um país, reduzindo ao empobrecimento e à miséria milhares dos teus conterrâneos. Portanto, nenhuma semelhança entre os dois, pelo menos no que toca aos métodos. Porque é que me disponho então a explicar-te sumariamente o pensamento de Hannah Arendt ? Porque há uma semelhança em abstracto entre ti, a tua actuação e o conceito de "banalidade do Mal". Tenho pena de ti e essa piedade tem origem no facto de viveres num sistema totalitário: provocas o vazio no teu interior fugindo da realidade, isto é, evacuas da tua experiência e da tua imaginação (existindo ela, o que está por demonstrar) a presença concreta dos outros; exprimes "clichés" atrás de "clichés" e colocas entre ti mesmo e o mundo o écran desses lugares-comuns (Roland Barthes dizia que a estupidez é a euforia do lugar), assim te eximindo de avalaires o mal que introduzes nesse mesmo mundo; o teu pensamento e a tua sensibilidade (se é que a tens, o que fica por demonstrar) colocam-se a si mesmos num estado de banalidade que é mais do que a simples ausência de pensamento ou de senbilidade : é antes de tudo uma intencional ausência de si. É triste e cruel. Sim, gasparzinho, o mal existe e tu és só um dos seus avatares.

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