domingo, 10 de abril de 2011

SERMÃO DA MONTANHA




Aqui as palavras nada podem. O ar escasseia e obriga a poupar a conversa. Aqui o voo solitário da águia suspende o tempo em volta de uma corrente de ar quente rodopiante, permanente. Aqui o vento penteia a neve do pico, o Sol joga às sombras nas encostas e as cabras pastam indiferentes. Aqui neste lugar deixamos de ser, se é que alguma vez fomos. Aqui há qualquer coisa de divino no silêncio que respira entre os rochedos, qualquer coisa parecida com a eternidade. Nada a dizer, nada a fazer, esmagados por esta evidência do universo. Como dois miúdos de calções que se enganaram numa esquina do caminho das brincadeiras e vieram dar a este espectáculo. O susto, a surpresa, o medo. Uma mão que ganha vida e se desloca instintivamente para agarrar a outra que chama por ela. Antes que a emoção nos obrigue a fazer chichi nos calções…

Artur

Paisagem montanhosa da Nova Zelândia. Fotos de Sofia P. Coelho

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