terça-feira, 14 de dezembro de 2010

ADEUS JOÃO


Todos acabamos por embarcar para o ultimo voo, para aquele de onde não há regresso. O destino, à semelhança de todos os voos que fazemos, é sempre uma incógnita. Uma incógnita de meteorologia, agitação social, tipo de passageiros, doenças à nossa espera, avarias, prolongamento de estadias, colegas que ainda não conhecemos. Toda a nossa vida de tripulantes é feita dessa incerteza que nos rouba alguns dos melhores e dos piores momentos da vida…porque estamos sempre em algum lugar fora dela. Agarramo-nos então ao pouco que nos resta, a essa tábua de salvação para manter a sanidade mental ou baixar a febre tropical ou simplesmente trocar dois dedos de conversa que nos ajudam a compreender que ainda estamos vivos apesar de pairar fora da vida. Conheci-te nessas circunstâncias. Um Natal em Bangcoque, uma peça da escola do primeiro filho em Johanesburgo, um AVC do meu pai em Cabo Verde, o casamento de um amigo em Luanda... escolhe um. Perdidos em paisagens estranhas e gentes desconhecidas, valem-nos os colegas, que rapidamente se tornam amigos, quase parentes. Contigo voltei à vida em conversa amena, entre dois ou três copos num bar anónimo de um hotel qualquer. Sempre que nos encontrávamos falávamos de tudo e de nada, como fazem os amigos, ao longo destes vinte e tal anos. Dávamo-nos bem, conseguíamos compreender “o outro” embora com vinte anos de diferença a marcar as nossas idades. Partiste agora e eu não me consegui despedir.
Antes assim. Quem chegar primeiro ao balcão anónimo do hotel desconhecido pede uma cerveja para o outro. Não estou triste porque sei que haveremos de nos voltar a ver. Hoje sou eu que demoro mais tempo a chegar ao bar anónimo. Mas conforta-me saber que tu já lá estás com uma cerveja em cima do balcão à minha espera. Até já João
Artur

5 comentários:

Vitor disse...

Há amigos que não os conhecemos...porque, amigos dos meus amigos,meus amigos são!
...E o joão Fortuna,é um dos tais. Conheci-o através de ti,do Jan jan,e do Zé Ceitil...e como teu amigo,João,aguarda "lá" por mim então!...e porque não,com uma cerveja também.

...Até lá,vai descansando em paz!

Clarice disse...

Bonita forma de não se querer dizer adeus...e disso faz-se eterna a palavra reencontro! Assim há vida depois da vida, e ainda bem!

Sofia Cunha disse...

É nestes momentos que me obrigo a acreditar que nos veremos todos noutro sítio. Pode ser que sim... Que bom seria se sim...

Artur Guilherme Carvalho disse...

Vitor,
Sê bem aparecido a esta casa. Volta sempre, comenta quando te apetecer, vai dando notícias.Feliz Natal. Grande abraço
Clarice,
Já acabaste de ler os livros recebidos? Gostaste? I hope so. Feliz Natal, volta sempre. Bjs
ac,
O universo é uma cidade muito grande. Dominada a rua passamos para o bairro, dominado o bairro passamos para a cidade, dominada a cidade, passamos para a estrada que nos levará a outras cidades. Quem vai à frente manda vir as cervejas e espera pelos outros.Não pode ser de outra maneira. Faliz Natal. Bjs

Clarice disse...

Os livros recebidos e lidos:) ainda (porque há linhas que faço questão de repetir, reler...) estão à cabeceira a serem digeridos...ADOREI!!! Obrigada, Artur!