sexta-feira, 18 de junho de 2010

JOSÉ SARAMAGO



1922 - 2010


Para a História ficará como uma das duas únicas vezes em que o nome de Portugal se inscreveu na lista dos Prémios Nobel, motor indiscutível de arranque e divulgação planetária de toda a sua produção literária. Para a nossa herança colectiva ficará um rasto de genialidade criativa, de imaginação admirável, bem como uma quantidade enorme de polémicas, exageros e contradições.
Do autor gostaria de destacar uma série de qualidades que o resto do mundo confirmou, contrariando a tendência neurótica e depressiva de um país lembrado apenas pelas piores razões, um povo mencionado pelos motivos mais negativos. Depois do Nobel, Portugal voltou a estar na agenda do mundo, desta vez por boas razões. Para trás ficou a fuga para Espanha na sequência da maneira pouco elegante como foi tratado pelos seus compatriotas. Não conseguiu escapar aos devaneios da vingança, não enjeitando a sua “marcha triunfante” do regresso a Portugal após a atribuição do Nobel. Não abandonou nunca as suas convicções ideológicas nem o seu partido apesar de mais de uma vez se ter visto em desacordo com as orientações oficiais. Não hesitou em erguer o “chicote” no breve período da revolução, perseguindo e saneando os (no seu entender) adeptos e perseguidores do tempo derrubado. Fez questão de negar Deus e a divindade, embora não hesitasse em O contratar para várias produções suas. Elogiou a ignorância ao querer relevar a sabedoria do seu avô analfabeto.
O facto de hoje todos e cada um lhe entoarem hinos de louvor e admiração quer apenas dizer que, apesar de nem sempre ter conseguido os mais altos níveis de elevação e dignidade, foi sempre fiel a si próprio, seguiu sempre o seu rumo.
Nos livros, deixou-nos um património considerável, erguido a pulso por um autodidacta que sempre acreditou na sua força. “Memorial do Convento”, “Levantado do Chão”, “O Ano da Morte de Ricardo Reis”, “Jangada de Pedra” e “Ensaio Sobre a Cegueira”, entre outros, são momentos extraordinários de leitura em que o nosso tempo se enriquece e nunca será perdido. Dizia Saramago que : “ Uma vez encontrada a nossa voz, esse será o caminho que teremos de percorrer para sempre". E ele encontrou-a, para nunca mais a abandonar. Teve a sorte de ver reconhecida a sua qualidade em vida, teve a sorte de viver uma longa vida ao lado da companheira que já não esperava, teve a felicidade de escrever uma longa obra e de a ver crescer. O saldo entre Saramago e a sua existência fica pois, bastante equilibrado.

Artur

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