terça-feira, 11 de maio de 2010
UMA SIMPLICIDADE ELEGANTE
A MONTH IN THE COUNTRY
Pat O’Connor
Reino Unido (1987)
If I'd stayed there, would I always have been happy? No, I suppose not.
People move away, grow older, die, and the bright belief that there
will be another marvellous thing around each corner fades.
It is now or never; we must snatch at happiness as it flies."
Tom Birkin, A Month in the Country
No Verão de 1920 Tom Brinkin (Colin Firth) é contratado para restaurar um mural medieval descoberto numa igreja rural. Veterano da I Guerra Mundial, começa aos poucos a integrar-se no ritmo lento e na paisagem bucólica, recuperando alguma tranquilidade na pacata aldeia de Oxgodby no condado de Yorkshire. Faz amizade com o arqueólogo James (Keneth Branagh), também veterano de guerra, que procura nas ruínas da igreja antiga uma misteriosa campa.
Baseado no livro de J. L. Carr com o mesmo título, A MONTH IN THE COUNTRY reveste-se de uma magia especial tendo em conta uma série de acontecimentos a ele ligado. Sendo o primeiro filme de Keneth Branagh, de Colin Firth como actor principal, o segundo de Natasha Richardson e o último de David Garth (Brinkin em velho), falecido meses depois das filmagens, o filme conta também com a peripécia de a sua cópia original ter andado perdida durante vários anos. Por outro lado a própria atmosfera do filme reveste-se de uma intemporalidade, de um tempo suspenso onde os personagens se refugiam para se reconstruír antes de decidir novos rumos para o seu caminhos.
Keach, o vigário, é um homem austero e rigoroso no seu papel de pastor da paróquia. Está contra a recuperação do mural alegando que vai distrair a atenção dos paroquianos. Está com o mundo antigo, com o tempo que não muda, como a maioria dos aldeões. Alice (Natasha Richardson), a sua mulher, é demasiado jovem para esse mundo, sentindo-se condicionada e infeliz num espaço onde não se consegue encontrar. A presença de Tom surge como uma esperança, ainda que vaga, de uma vida diferente. Quando está ao pé dele não faz segredo nenhum sobre a sua atracção. Mas mesmo que a sua paixão se venha a concretizar (o que acaba por não acontecer), Alice sabe que não será essa a porta para a sua felicidade. Tom e James são dois estranhos temporariamente colocados numa dimensão que não lhes pertence, num mundo que acabarão por abandonar mais tarde ou mais cedo. A sua inevitável aproximação nos tempos livres, a sua cumplicidade é evidente embora não tão íntima como poderá parecer. Aproveitam as pausas do trabalho para beber chá ou tomar refeições. As suas actividades funcionam enquanto metáforas das suas existências. As camadas de pintura do mural são como as diversas camadas de emoções que se vão revelando na vida de Tom, tanto em relação à sua reestruturação psicológica como à relação com Alice. A realidade arqueológica escavada e trazida à luz do dia acompanha um James ainda emocionalmente perturbado pela guerra, em luta acesa com os seus fantasmas, nomeadamente o da aceitação da sua homossexualidade.
A narrativa decorre neste ambiente aparentemente tranquilo de Verão no campo, onde a impossibilidade do amor e a emocionalidade reprimida condicionam a felicidade dos personagens. Uma espécie de dor persistente atenuada ocasionalmente por pequenas alegrias, pequenos momentos de partilha com “o outro”. Tudo isto nos é apresentado com a elegância da representação dos actores ao denunciarem as suas emoções mais pelas simples expressões do que pelo que dizem. E esta simplicidade elegante de apresentar uma história traz um contentamento mágico em quem a observa.
Artur
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2 comentários:
Adoro os livros de J.L.Carr, e este em particular. So british!!!!
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