quinta-feira, 18 de março de 2010

NÃO MATEM A LÍNGUA II

Se nos basearmos nos textos já publicados por vários signatários da petição contra o Acordo Ortográfico, são mais as contradições que se encontram do que a afirmação de uma reforma digna desse nome. Destaquemos alguns exemplos. De acordo com o novo acordo ortográfico está previsto retirar as consoantes mudas tal como “c” (acção) e “p” (aptidão), desprezando a etimologia das palavras. Mas está também previsto manter os “h” (homem, harmonia) devido à “etimologia das palavras”. Então em que é que ficamos? Desprezamos as consoantes mudas às segundas, quartas e sextas e mantemo-las às terças, quintas e sábados? Coerência, onde andas tu?? Para além de fazer tábua rasa da etimologia, a supressão de consoantes mudas como “c” e “p” vai criar terríveis dificuldades ao nível da pronúncia. Como é que pronunciaremos, por exemplo, “facção” ou adopção? “Fâção”? Adóção?
Mas o que ainda é mais estranho é que este acordo prevê este sacrifício de pronúncia em nome da ortografia em Portugal, nos Palop e em Timor. E perguntam vocês: “E porqe é que não está previsto este sacrifício no Brasil?” Porque não é assim que os brasileiros pronunciam. Por exemplo, a utilização do acento circunflexo em palavras como “antônimo” e “ténis”. E assim continuamos com dois tipos diferentes de ortografias, contrariando uma das razões mais importantes para a existência deste acordo, ou seja, a criação de um padrão comum na escrita do português. Se um dos objectivos era precisamente acabar com a dupla ortografia porque é que há cedências na pronúncia brasileira e não há em relação às outras?
Não só o acordo prevê a continuação de ortografias diferenciadas como também a de regras gramaticais distintas, o que acabará por manter a situação de um português de Portugal e outro do Brasil. Para quê então celebrar um acordo se ele não cumpre o seu objectivo principal, ou seja, o da unificação das ortografias de todos os países de expressão portuguesa???
Alterar a ortografia implica alterar fundações da língua, tradição etimológica e características próprias e intrínsecas de cada dialecto. A pronúncia é a base fundamental de um idioma e este acordo despreza-a, atirando-a para um plano secundário.
Há também quem diga que, não sendo por razões directamente relacionadas com a língua em si, o objectivo deste acordo visa objectivos puramente comerciais e diplomáticos. Como se a língua fosse um qualquer tipo de mercadoria negociável. Quem fez este acordo, das duas, uma. Ou não sabia que material é que tinha em mãos, ou não tinha qualquer qualificação para o fazer. Este acordo não combate o analfabetismo nem estreita laços culturais. Desagrega ainda mais a identidade ao provocar uma banalização da língua, património de todos, sistematicamente assassinado por uma classe política ignorante e irresponsável no que às políticas da Educação e da Cultura diz respeito e uma Comunicação Social fraca, impreparada e inútil na divulgação da maneira correcta de escrever português. Este acordo não serve, não interessa e deve ser riscado do mapa. Se o amigo leitor concorda com aquilo que estive aqui a dizer, faça-me o favor de assinar a petição contra o acordo ortográfico. Obrigaremos a Assembleia da República a retirar este aborto do nosso caminho. Muito obrigado.
ARTUR

1 comentário:

Alguém disse...

Para mim, fatos... só no armário! ;-)
Até fico agoniada quando leio um texto redigido com o novo (des)acordo ortográfico; imagino quando toda a imprensa, legendagem etc aderir a este horror!
Que tristeza...