terça-feira, 3 de março de 2009
ESCRITO NO VENTO
As palavras que nunca te disse foram aquelas de que não me consegui lembrar. Os momentos que registei, as memórias agradáveis, as outras, foram-se arrumando silenciosamente como livros em estante de biblioteca. Se agora houvesse espaço para me arrepender, tenho a certeza de que não o faria. Se agora houvesse caminho de retorno e emenda, virava-lhe as costas. Tudo é como é, e tudo faz um sentido qualquer nas nossas vidas mesmo que não lhe consigamos chegar a ler sentido nenhum. E a pairar sobre esse sentido há outro, uma razão de ser maior que nunca se deixa revelar, uma ideia, um conceito qualquer que nos manipula em determinada direcção, um “porquê” que respira. Cá em baixo sabemos apenas que nos inscreveram num ciclo, do nascer até à morte, concêntrico noutros círculos de existência onde o tempo corre, corre sempre para lado nenhum. Na pujança da idade adulta chovem ilusões sobre a consciência. Somos os reis do mundo e tudo se explica na palma da mão. Mas não… é só ilusão. Ilusão suficiente para repetir a vida, recriar círculos concêntricos com outros ciclos debaixo de um sentido superior a que não fomos apresentados. Fica o amor, as emoções que nos sopram insistência em seguir o rumo dos acontecimentos com vontade e determinação. Fica a raiva e o nervo vibrante de dor pela injustiça ou pela maldade, pelos filmes onde nos calhou o papel de vítima. E para quê? Porquê? Para onde vamos se é de movimento que se trata? O que conhecemos nós que nos sirva para ser hoje mais do que fomos ontem? E agora? Para onde..?
ARTUR
(Fotografias de Sofia P. Coelho)
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3 comentários:
Tão bonito, Artur!:)
Gosto de perguntas, o pior ás vezes é encontrar as respostas... não é?
*Na casa da minha avó havia um moinho igual ao das fotografias... lembro-me tão bem do barulho que fazia com o vento...
Obrigado Clarice.
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