sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

TEMPOS SUSPENSOS (A ESTAÇÃO)

 

O Tempo nunca passa duas vezes no mesmo lugar. Corre apressado pelo caminho que só ele conhece e deixa-nos para trás acompanhados por sombras e recordações. Antes tem ainda espaço para montar um cenário, vender-nos um bilhete em forma de idade e apresentar o espectáculo para cada dia. As emoções embarcam na montanha russa e vão subindo e descendo pelos cantos do nosso ser à medida que o desgastam, enfraquecem, envelhecem, aniquilam.

Uma estação onde apanhamos o transporte todos os dias. Para o trabalho, para visitar parentes, para férias, para partir de vez. E de cada vez o tempo é outro, é sempre outro seja pela estação do ano, pelo momento histórico, pela fase da nossa existência. Uma estação onde nos despedimos dos pais a caminho de uma guerra ou recebemos os netos para o Natal. Uma estação onde vimos partir quem nunca mais voltaríamos a ver ou desembarcámos felizes por estar de volta na nossa cidade.

Uma estação, paredes, comboios, anúncios em alto-falantes, painéis de horários, um relógio enorme no centro do átrio principal e gente, multidões de gente a correr em todas as direcções. Como o Tempo, cada uma com o seu destino, apressado, atrasado, controlado pelo relógio.

E a estação sempre igual, o mesmo espaço seja qual for o tempo. Sombras esgueiradas das paredes, vultos que espreitam nas esquinas, restos de cenários empilhados uns sobre os outros, memórias que sobem e descem pelos cantos, novilhos perdidos da manada.

Estação, um espaço que respira vários tempos, que mastiga estações do ano e momentos históricos, sempre igual. Armazém de memórias e épocas, ponto de encontro, de partida, regresso ou despedida.

O Tempo corre apressado todos os dias pelos corredores da estação sem voltar atrás. Nunca é o mesmo, nunca fica parado a não ser no espaço da estação que o recebe, regista e arquiva.

O Espaço é o biógrafo do Tempo…

 

Artur

 

 


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