Sabiam que a tecnologia que permitia o êxodo existia e os melhores e mais promissores filhos de cada, eram escolhidos em nome da prevalência genética e da promessa de Vida.
Já muitos tinham partido sem regresso. Mesmo assim acreditavam na possibilidade do sucesso numa vida com sentido.
Do alto, observando-se a costa da Líbia e de outros países do Magrebe, as naves partem durante a noite, umas a seguir ás outras em direcção à prometida salvação num lugar chamado Europa.
Em cada, centenas de histórias de vida. Verdadeiras epopeias de viagem em condições inimagináveis, atravessando desertos e perigos de todo o género. Na chegada à praia de onde partiriam mar adentro, já não estão todos o que se propuseram a esse feito nas aldeias de onde saíram. A travessia por terra antes do mar, também reclamou o seu quinhão de vidas.
Na ânsia dessa quimera, na sua ingénua inocência, não tinham percebido que quem lhes tinha feito as promessas, nada mais queria que não fosse dinheiro.
As naves para o outro planeta não passam de bateiras que se transformam em caixões que levam os escolhidos para as profundezas e escuridão da morte.
Lampedusa, uma ilha italiana mais próxima da costa africana que da Itália, até há poucos anos praticamente incógnita, acaba por ser o destino da desgraça, fruto da miséria humana. O almejado planeta de exílio não era imaginado assim.
A dimensão da tragédia não move nem comove os europeus como outras coisas que têm acontecido com os 'seus'.
Afinal há pouco com que se possam identificar.
Nem cor, nem raça, nem cultura, nem religião, nem nada.
O mediterrâneo que para os europeus serve para nadar, para os africanos que buscam uma utopia desavisada, serve para morrerem afogados na esperança de dias melhores.
Os dias do fim devem mesmo estar a chegar.
Na Europa estão.
Hélder
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