Há uma espiral de destruição
permanente que não abranda nem mostra sinais de enfraquecer. Tal como o vento
do Norte, está lá sempre, altiva, arrogante e destruidora. Um a um vão caindo
os pedaços do nosso mundo sem que nenhuma esperança se levante para tentar
mudar a direcção do vento. E nós, vítimas, calhaus imóveis assombrados pelo
uivo do vento, insistimos em ficar, em manter a posição, em nada fazer. Há uma
espiral de destruição que nos desagrega a identidade e nos afasta o sentido das
coisas, algo que não responde às nossas interrogações, antes destrói com cada
vez mais força. O vento não muda, o vento nunca mais vai mudar. Ou talvez o
venha a fazer sobre os restos das nossas existências, daqui a muito ou pouco
tempo. Talvez o vento mude no dia em que chegar o Messias e não houver ninguém
vivo para o receber. Talvez nesse dia este desfile de destruição ceda e
enfraqueça dando espaço para que qualquer coisa possa crescer entretanto. Mas
este vento sempre soprou do mesmo quadrante, mesmo quando parecia muito mais
fraco e menos destruidor. Este vento sempre lá esteve alimentado por nós que
agora nos tornamos suas vítimas. Esteve lá no nosso egoísmo, na nossa luxúria
egocêntrica, nos nossos jogos idiotas de poder, na nossa indiferença ou omissão
para corrigir os erros. Alimentando-se de tudo isso ganhou força, ficou
consistente e agora dispara o seu rugido de destruição aterrador e
aparentemente sem fim. O nosso mundo vai-se desfazendo alegremente sem que nada
aconteça, sem que ninguém tente travar esse ímpeto. Caminhamos alegres e
contentes para o fim repetindo tudo o que fizemos para trás como carneiros a
caminho do matadouro. Nem sequer há resistência como noutras épocas idênticas.
Apenas uma parvoeira generalizada de idiotas que se odeiam mutuamente
alimentando o ódio superior que os exterminará a todos. Apenas uma pulsão
suicida de quem esgota limites, possibilidades, esperanças.
Há uma espiral de destruição
sobre as nossas cabeças e somos completamente incompetentes para a conseguir
fazer parar. Os pedaços do nosso mundo vão desaparecendo um a seguir ao outro
até o Ser se extinguir. Depois outros tempos virão, outros tempos se instalarão
neste espaço. Mas sem nós. Se alguma coisa devemos aprender com tudo isto, ela
não nos servirá para nada. O vento continua a soprar sempre do mesmo lado cada
vez mais forte e eu já não quero saber…
Artur
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