quarta-feira, 16 de julho de 2014

O VENTO



Há uma espiral de destruição permanente que não abranda nem mostra sinais de enfraquecer. Tal como o vento do Norte, está lá sempre, altiva, arrogante e destruidora. Um a um vão caindo os pedaços do nosso mundo sem que nenhuma esperança se levante para tentar mudar a direcção do vento. E nós, vítimas, calhaus imóveis assombrados pelo uivo do vento, insistimos em ficar, em manter a posição, em nada fazer. Há uma espiral de destruição que nos desagrega a identidade e nos afasta o sentido das coisas, algo que não responde às nossas interrogações, antes destrói com cada vez mais força. O vento não muda, o vento nunca mais vai mudar. Ou talvez o venha a fazer sobre os restos das nossas existências, daqui a muito ou pouco tempo. Talvez o vento mude no dia em que chegar o Messias e não houver ninguém vivo para o receber. Talvez nesse dia este desfile de destruição ceda e enfraqueça dando espaço para que qualquer coisa possa crescer entretanto. Mas este vento sempre soprou do mesmo quadrante, mesmo quando parecia muito mais fraco e menos destruidor. Este vento sempre lá esteve alimentado por nós que agora nos tornamos suas vítimas. Esteve lá no nosso egoísmo, na nossa luxúria egocêntrica, nos nossos jogos idiotas de poder, na nossa indiferença ou omissão para corrigir os erros. Alimentando-se de tudo isso ganhou força, ficou consistente e agora dispara o seu rugido de destruição aterrador e aparentemente sem fim. O nosso mundo vai-se desfazendo alegremente sem que nada aconteça, sem que ninguém tente travar esse ímpeto. Caminhamos alegres e contentes para o fim repetindo tudo o que fizemos para trás como carneiros a caminho do matadouro. Nem sequer há resistência como noutras épocas idênticas. Apenas uma parvoeira generalizada de idiotas que se odeiam mutuamente alimentando o ódio superior que os exterminará a todos. Apenas uma pulsão suicida de quem esgota limites, possibilidades, esperanças.
Há uma espiral de destruição sobre as nossas cabeças e somos completamente incompetentes para a conseguir fazer parar. Os pedaços do nosso mundo vão desaparecendo um a seguir ao outro até o Ser se extinguir. Depois outros tempos virão, outros tempos se instalarão neste espaço. Mas sem nós. Se alguma coisa devemos aprender com tudo isto, ela não nos servirá para nada. O vento continua a soprar sempre do mesmo lado cada vez mais forte e eu já não quero saber…


Artur

Sem comentários: