sexta-feira, 25 de abril de 2014

25 DE ABRIL - QUARENTA ANOS DEPOIS

Hoje, 25 de Abril, devia ser um dia especial.
Hoje deveria ser o dia de celebração da vitória de um Povo que se libertou de um período de trevas, onde só quem fazia parte de uma determinada linha de pensamento vingava, independentemente das suas capacidades. Os medíocres enchiam o peito com a cobertura e protecção de um estado apodrecido.
Ponho-me a pensar nas versões das 'conquistas de Abril' pela boca de quem faz parte do arco do poder e enojo-me com a hipocrisia generalizada.
Porque se a 25 de Abril de 1974 todo um povo inspirou avidamente o ar renovado de uma janela de Esperança que se abriu, quarenta anos depois o bafio insiste em reinstalar-se. E a asfixia sente-se.

Para mim a Liberdade resulta intrinsecamente da forma como uma sociedade assume a Responsabilidade tanto individual, como colectiva.
Quanto mais cada um respeitar o outro e também se der igualmente ao respeito, maior será a harmonia social e indubitavelmente a Liberdade.
Uma sociedade verdadeiramente democrática não necessita do chorrilho diário de leis regurgitada por uma AR que não representa o Povo e não defende os seus direitos e necessidades. As leis emanadas servem quase exclusivamente para cercear as garantias dos ofendidos e defender a mediocridade. Uma mediocridade que se perpetua e se torna a regra dominante porque protegendo-se mutuamente, soube compreender os mecanismos da Democracia e entendendo-os, imiscuiu-se nos pontos primordiais que lhe permitiriam perpetuar-se, servindo ao mesmo tempo os interesses que prosperando através da sua actuação, a mantém nos lugares governativos e decisórios.
Todos os dias saem leis que a protegem. Todos os dias! Pela surra.
Uma justiça forte com os fracos e inócua com os fortes, políticas de saúde e educação deterioradas e órgãos de comunicação social, vergados ao poder dos grupos económicos que os detém, debitando a opinião diária dos medíocres de serviço que trouxeram este nosso Estado ao estado de coisas em que se encontra, prioridades culturais aberrantes, não são indicadores de um futuro promissor.
A AR, por definição a casa da Democracia, foi sendo ao longo dos anos tomada de assalto por gente invertebrada que faz uns jeitos a quem nunca deixou de controlar verdadeiramente o poder. Bem diziam os estivadores quando numa manifestação, ao passar defronte, gritavam aos polícias que lhe garantiam o perímetro de segurança "Os ladrões estão lá dentro! A polícia está cá fora!".
Uma sociedade evoluída não precisa de leis porque todos sabem o ponto onde a sua Liberdade vai colidir com os direitos dos outros.
Antes de Abril de 1974, mentia-se e manipulava-se o povo veladamente. Passados quarenta anos mente-se e manipula-se o povo descaradamente porque os medíocres conseguiram adaptar a realidade que os eleva a um patamar de inimputabilidade. E quanto mais importante for o cargo público, maior é o grau de desresponsabilização. A pouca vergonha impera. Antes era a mentira, agora é a mentira desavergonhadamente descarada.
Em Portugal temos leis a mais e responsabilidade a menos.
Em Portugal não se cultiva a qualidade porque a mediocridade impera e abafa.
Em Portugal passados quarenta anos, quem se atreve a pensar pela própria cabeça é ostracizado ou pelo menos, estranhado. A desformatação mental e ideológica é uma barreira quase intransponível.
Em Portugal falta cumprir os sonhos de Abril e fazer jus à infinita coragem e generosidade de quem abriu a janela da Esperança.
Em Portugal falta cumprir a Igualdade, Democracia e Liberdade.

E isso é da Responsabilidade individual.

Para já, Portugal não passa de um inconseguimento.

Hélder

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