terça-feira, 18 de março de 2014

QUANDO NÃO DIZES NADA, NÃO DIGAS NADA

"A estupidez é a euforia do lugar" Roland Barthes



O Partido Liberal Revolucionário que actualmente exerce o poder em Portugal - constituído pelo governo, pelos membros da maioria parlamentar que o sustenta, os jornalistas de serviço, os lobistas e a restante canzoada - revelaram a sua miséria moral e indigência intelectual na resposta que (não) deram ao chamado Manifesto dos 70. Para dar só um exemplo da mentalidade badalhoca desta gente, um exemplo suficientemente significativo do estilo rasteiro com que intervêm no espaço público e da substância boçal e canalha de que são feitos, basta referir que desceram ao nível mais reles e canalha da falta de argumentos ao crismarem de "antipatriotas" os subscritores do documento. Eles, os lacaios servis dos credores, os cães amestrados dos grupos económicos que os controlam e manipulam, os "pinículos" (ridículos arvorando na lapela o pin da bandeira nacional), eles os hipócritas que falam do "protectorado" não se importando de fazer todos os fretes ao "protector", quais colaboracionistas arvorados em portadores únicos do "sentido de Estado", eles os bacocos do 1640 e do relógiozinho a contar o tempo que falta para o supremo fingimento da "missão histórica cumprida", eles todos provocam um nojo que não tem fim, um vómito que não se exaura, um asco moral que oprime e angustia as pessoas de bem.. E são estes dementes, estes doentes mentais que se propõem liderar uma transformação do país, como se fossem capazes de transformar outra coisa que não o seu próprio estatuto, almofadado e imune a todas as crises pelo modo como colonizam e assaltam o aparelho do Estado e angariam favores e prebendas vendendo ao desbarato tudo aquilo que possa valer alguma coisa.

"Este país devia ser pasteurizado a merda", dizia Norah D'Almeida, personagem da obra "A Balada da Praia dos Cães", de José Cardoso Pires. Pois bem, já está, já conseguiram pasteurizar este país a merda, à conta do discurso "não há alternativa". Poderá não haver alternativa, mas há muitas alternadeiras, daquelas que bebem champanhe francês verdadeiro, se passeiam pelas estâncias balneares, têm "muito mundo" e ora se entregam ao senhor Goldman, ora se deitam com o senhor Sachs, dormem com o BPN, acordam com os grandes gabinetes de advogados e tomam o pequeno almoço com o anarcocapitalismo. O povo português, esse, "deitou-se com Helena e acordou com um cadáver".

Ao serviço do anarcocapitalismo, tornando-se o seu mais fiel servidor, esta gente destrói o presente, faz implodir o sentido do bem público, transforma as vidas de muitas pessoas numa corrida imparável rumo a um ter vivido e morrer o mais depressa possível, incapazes de sobreviver na selva que eles criaram e de que se ufanam. A ideologia que professam, desprezando o Estado e a Lei, composta da mercantilização e transvalorização total das vidas humanas e dos direitos que a civilização lhes confere e de um radicalismo secularizado, encaminha perigosamente a nossa sociedade para uma deriva totalitária, tanto mais ameaçadora quanto o poder não é exercido pelos seus titulares, mas pelos mandantes ocultos perante quem respondem. Só não lhe podemos chamar fascismo, como se as designações ainda valessem alguma coisa, porque ainda há eleições de quatro em quatro anos. Eles não são apenas estúpidos e boçais; são, como Hannah Arendt diz de Adolph Eichmann, "incapazes de pensar", logo, incapazes de fazerem juízos morais e de distinguirem entre o bem e o mal.

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