sexta-feira, 17 de janeiro de 2014
PURO
O som pesado, guitarras em riffs duros, uma consciência esmagada mas que teima em se manter de pé, o amor aos tropeções a brincar às escondidas com o desejo, a visão dos tempos, um saxofone melancólico que remata harmonias, está na rua o ultimo álbum dos Xutos & Pontapés. Sóbrio, elaborado, seguro e igual à qualidade de sempre “PURO” é o resultado de vários anos de trabalho desta mítica banda sempre comprometida com uma leitura do tempo, sempre ao lado de um “Inconsciente Colectivo” que acabou por ajudar a construir.
A raiva e a energia são as mesmas do primeiro dia, a diferença está apenas nas vestes com que se apresentam, no passo seguro da veterania, na tranquilidade de quem já não tem mais nada a provar.
No ouvido conseguimos reter de imediato a canção que serve de apresentação do álbum “Tu Também ( Há Dez Mil Anos Atrás) “ bem como “De Madrugada ( Tu e Eu)”, duas canções de amor em torno das suas contradições e ausências, dos desencontros e da procura.
Retratando o caos urbano, a pressão, o stress, a solidão, a raiva, continua a fazer-se a história de um tempo com as ferramentas habituais, com a objectiva do Rock, reforçando uma harmonia caótica, ou simplesmente o seu conceito enquanto porto de abrigo.
Em termos místicos o homem continua sozinho sem” Um Deus” que o escute, perdido num meio de um povo que “quer é mais futebol” e uma beca d’ “O Milagre de Fátima”.
Houve um tempo, houve um espaço que desapareceu debaixo de um cilindro compressor composto de bancos, chineses e buracos. O café desapareceu (“morreu de ASAE e excesso de IVA), a loja, o irmão emigrou (“onde é que eles foram, onde é que eles estão?”), o país vai ficando cada vez mais vazio, mais desfeito nesta lógica absurda que só destrói e destrói até não sobrar nada. O futuro vai-se derretendo sobre as feridas, a fome e o desespero.
Por fim temos “Longe (Perdido na Multidão)”, uma história de solidão e inacessibilidade, “manhã submersa, onde é que tu foste”, a balada de um canto escondido, distante, de um grito que só se calará com a morte.
Ou seja, os Xutos continuam aquilo que sempre foram, reforçando com mais este trabalho a solidez da sua aura mítica construída ao longo dos anos. Não conseguindo surpreender mantêm-se no elevado nível de qualidade a que sempre nos habituaram. Não desiludem, não desarmam e não deixam de pensar. Um excelente trabalho.
Artur
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