Num café anónimo de uma cidade
qualquer a noite levanta-se devagar. Lá dentro um casal prepara-se para beber
um café ou comer qualquer coisa. Cá fora um cão faz o reconhecimento do terreno
com o nariz enquanto espera o regresso do dono. Nesta imagem tranquila, o mundo
não tem lugar com as suas misérias e desgraças do costume. Celebra-se um
momento de paz, uma simples situação em que por momentos tudo está no lugar
onde devia estar, tudo faz sentido, todas as formas e todas as cores se encaixam
entre si em harmonia. Descendente da esplanada nocturna de um café em Arles
(Van Gogh), esta também poderia ser a primeira imagem de um filme de Wenders,
um “estado das coisas” ou um “movimento em falso”, da sua primeira fase. Esta
podia ser a imagem que antecede as rodagens de um filme de Scorcese, no momento
exactamente posterior à sua equipa ter molhado as ruas para melhor fazer
sobressair as luzes e as formas nocturnas da cidade. Mas não. É apenas a imagem
de dois amigos meus entretidos no seu fim de dia, com um cão cá fora a cheirar
as pedras do chão. Não será nada de espectacular, muito menos original. Nas
palavras de Goddard, não será uma imagem justa, será simplesmente uma imagem.
Uma imagem que me aquece a alma pela simplicidade tranquila com que se
apresenta. Uma imagem onde cabem os meus dois amigos João e Ana na rotina do
seu tempo. Apenas uma imagem…
Artur
3 comentários:
Foi um prazer ver um texto lindíssimo junto com à foto que tirei aos meus primos e ao meu cão Gastão. Muito obrigada.
Eduarda
Obrigado Eduarda.
Fazem tão bem estes "intervalos"!...
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