sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

JUSTE UNE IMAGE

Num café anónimo de uma cidade qualquer a noite levanta-se devagar. Lá dentro um casal prepara-se para beber um café ou comer qualquer coisa. Cá fora um cão faz o reconhecimento do terreno com o nariz enquanto espera o regresso do dono. Nesta imagem tranquila, o mundo não tem lugar com as suas misérias e desgraças do costume. Celebra-se um momento de paz, uma simples situação em que por momentos tudo está no lugar onde devia estar, tudo faz sentido, todas as formas e todas as cores se encaixam entre si em harmonia. Descendente da esplanada nocturna de um café em Arles (Van Gogh), esta também poderia ser a primeira imagem de um filme de Wenders, um “estado das coisas” ou um “movimento em falso”, da sua primeira fase. Esta podia ser a imagem que antecede as rodagens de um filme de Scorcese, no momento exactamente posterior à sua equipa ter molhado as ruas para melhor fazer sobressair as luzes e as formas nocturnas da cidade. Mas não. É apenas a imagem de dois amigos meus entretidos no seu fim de dia, com um cão cá fora a cheirar as pedras do chão. Não será nada de espectacular, muito menos original. Nas palavras de Goddard, não será uma imagem justa, será simplesmente uma imagem. Uma imagem que me aquece a alma pela simplicidade tranquila com que se apresenta. Uma imagem onde cabem os meus dois amigos João e Ana na rotina do seu tempo. Apenas uma imagem…

Artur

3 comentários:

Anónimo disse...

Foi um prazer ver um texto lindíssimo junto com à foto que tirei aos meus primos e ao meu cão Gastão. Muito obrigada.

Eduarda

Artur Guilherme Carvalho disse...

Obrigado Eduarda.

Hélder disse...

Fazem tão bem estes "intervalos"!...