Irmãos:
Ouvi a Boa Nova que alguém que pode mais do que eu me encarregou de transmitir. Ouvi e jubilai: Portugal não só vai vencer a crise, como vai tornar-se uma potência mística mundial.
Já ouço as legiões de arcanjos, anjos, querubins, serafins e todos os santos do Paraíso entoarem loas à glória pátria !
Já vejo a Nova Jerusalém erguer-se ali para os lados de Cacilhas e o Quinto Império tornar-se realidade !
O gang que nos (desgoverna) entregou, enfim, os destinos da nação nas mãos de Deus e Ele não nos abandonará, a nós que sempre fomos seus filhos dilectos. Os sinais já estão à vista de toda a gente e apenas os refiro para aqueles que andam de olhos vendados e ainda não despertaram para a Revelação:
1) a senhora assunção cristas, parece que ministra da agricultura (e de dezenas de outras coisas) e católica praticante, segundo a própria, reuniu-se com o seu homólogo espanhol a fim de debaterem a seca que ameaça tomar contornos catastróficos. No regresso, e perguntada por medidas que se perspectivem para solucionar ou minimizar o problema, declarou candidamente "Bom, eu espero que ainda chova, se Deus quiser". Deus há-de querer, depois de aliciado com umas novenas, umas procissões e umas rezas organizadas pela senhora ministra, e há-de enviar-nos catadupas de água, daquelas que fazem brotar uma selva amazónica em pleno deserto do Sahara. Não é que seja necessário, mas só para prevenir, sugiro à dra. cristas que mande vir também um bando daqueles índios especialistas na dança da chuva. Só para prevenir...
2) o nosso primeiro ministro, o tele-evangelista luso-angolano miguel relvas mandou imprimir cem exemplares de uma Nova Bíblia com o programa deste (des)governo (papel couché, milhões de cores, águas quentes e frias e vista para o mar) ao módico preço de 120 euritos cada, num total de 12000 euros. Logo se levantaram vozes indignadas de incréus, hereges e mefistófeles condenando esse gasto sumptuário numa altura em que se cortam pensões e apoios sociais. Também eu me indigno, mas por uma razão diferente: porquê só cem exemplares e não dez milhões ? Acaso não terão todos os portugueses direito a conhecerem o Relvismo e embeberem-se da palavra divina ? Além de que, para essa quantidade, a tipografia amiga talvez pudesse fazer "uma atencãozinha", como se costuma dizer no comércio tradicional, saindo a coisa mais em conta para o erário público. Os infiéis não compreendem que para espalhar o Verbo relvista nada é de demais, nenhuma despesa excessiva ?
3) o ministro soares anunciou a doação de 47 milhões de euros para atribuír a cantinas sociais, nova designação para a antiga sopa dos pobres. Que miserável e hedionda criatura se atreverá a acusar deste (des)governo de insensibilidade social ? Enquanto José Sócrates continua a destruir vidas, a aumentar o desemprego, a aniquilar a economia e a retirar apoios sociais, o esforçado soares reinstaura a caridade pública, tão cara ao antigo regime e tão benéfica para a salvação das consciências que a praticavam. Tenho imensa pena que a anterior proposta do CDS, que consistia em distribuir aos carenciados um cartão de assistência que lhes permitia adquirirem feijão e arroz, em vez de gastarem o dinheiro do RSI em automóveis da marca Audi (modelo A7), caviar e champanhe, não tenha sido concretizada. Mas não percamos a esperança. Esse é o próximo passo do ministro lambretista. Sugiro outra medida complementar: que cada português rico (todos aqueles que ganham acima do salário mínimo nacional) adopte um pobrezinho. Não precisa de o levar para casa, conviver com ele, ou dar-lhe banho; basta que deixe à porta de casa, em dias marcados previamente, um saco de plástico com alguns víveres, umas roupinhas usadas em bom estado, uns trocos para o café (se o adoptante for perdulário). Já vejo um lugarzinho no Céu reservado para o soares e seus comparsas, já vejo anjos entoando hossanas à bondade da criatura;
4) parece que o macedo da Saúde é da opus dei. Não deve ser um supranumerário muito esforçado nas rezas nem no emprego dos cicílios (é para usar nas pernocas, ou à volta da cintura, sr. ministro, não é na cara), dada a incompetência e ineficácia que tem demonstrado no desempenho do cargo. Sugiro que se encomende ao escrivá e que deixe nas mãos do beato a tarefa que, a mando do gasparzinho, mal e porcamente iniciou: o desmantelamento do Serviço Nacional de Saúde e a entrega aos privados dos cuidados que até agora o Estado tem assegurado. Ele própio, para não ficar desempregado, pode ficar a gerir os restos do desmantelado SNS, criando serviços para assistir os pobrezinhos, essa gente ígnara que só não é rica porque não quer;
5) como diz o nosso povo: "não há bela sem senão". E qual é o "senão" que arreliadoramente pousa na cabeça dos próceres que nos (des)governam ? Jesus Cristo acusou os fariseus de serem "sepulcros caiados de branco", vergastando a sua hipocrisia e mendácia com o látego ardente da sua palavra. Não me querendo comparar com Cristo, também eu hei-de aqui denunciar a mação podre, uma ovelha negra, que se esconde no meio destes justos que nos (desgovernam). Chama-se ele hélder rosalino e vem propor que os funcionários públicos possam entrar numa mobilidade ultra-especial que prevê a possibilidade de os enviar para qualquer ponto do país, sem o seu acordo. Então, como fica a doutrina social da Igreja, as orientações da Pastoral da Família e outros textos eclesiais que reconhecem o valor social da família, recomendando a sua promoção e apoio ? As arrastadeiras que assessoram o sr. hélder rosalino, no seu ódio ultra-liberal ao Estado (que só emerge quando lhes convém) e ao funcionalismo público não perceberam que tal medida, a ser efectivada, provocará a desestruturação e desagregação das famílias dos funcionários deslocados ? E os católicos cristas, portas, soares e o opus dei macedo não se insurgem, não dão um murro na mesa, não alertam para mais este desmando do gasparzinho e do seu gang ?
6.) como é patente, tenho estado a comentar acontecimentos político-sociais na esfera da teologia, rejubilando com o futuro radioso de redenção que nos está a ser anunciado por membros do gang. No entanto, esta gente coloca problemas teológicos muito difíceis de resolver. Se por um lado Jesus Cristo os mandou perdoar por não saberem o que fazem e anunciou no Sermão da Montanha que o Reino dos Céus também é dos pobres de espírito, por outro proclamou que pela árvore se conhece o fruto e que o machado já está apontado à raiz da árvore que não dá bons frutos.
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