domingo, 21 de agosto de 2011

DIAS PERFEITOS

Naquela altura eu não trabalhava. A tua mãe saía de manhã e nós ficávamos sozinhos. Era eu que te dava de comer, era eu que te mudava a fralda, era eu que ia à rua passear contigo no carrinho. Isso foi há mais de 20 anos. Morávamos numa casa simpática nos subúrbios da cidade. Hoje jantas à minha frente, pedes mais uma cerveja e ao teu lado janta a tua namorada. Quando passávamos o dia sozinhos costumava ouvir uma música do Lou Reed no rádio. Such a Perfect Day. Duas ou três frases da letra encaixavam perfeitamente naqueles dias. “It’s such a perfect day…I´m so glad that I spend it with you…such a perfect day…You just keep me hanging on”.
Assim foi. Assim é quando cumprimento a tua namorada, quando mando vir mais uma cerveja para os dois.
Assim será muito tempo depois de eu partir. Os dias perfeitos constroem as relações felizes e duradouras. Assim tu me mantiveste à tona da água e, sem o saberes, me fizeste não errar em algumas encruzilhadas em que as escolhas não eram muito transparentes. Por isso valeu a pena ainda cá andar.
Por um jantar de Verão com a tua namorada na calma do entardecer…
Serás sempre o meu filho dos dias perfeitos…

Pai

2 comentários:

Hélder Martins disse...

Quando há três anos o meu pai partiu, alguém nosso conhecido me disse que sem os nossos pais, ficamos sozinhos. Não podemos contar com mais ninguém. Não reagi, mas fiquei a pensar naquilo. Depois de ruminar o assunto durante algum tempo, cheguei à conclusão que não será assim. Temos o amor dos que nos são queridos, e se tivermos a capacidade e sorte de amarmos e ser amados, não ficamos sós. Eu amava o meu pai. Foi e será o melhor amigo que eu tive. Por isso, procuro todos os dias também ser o melhor amigo para a minha filha. Mas sou um interesseiro: quero conseguir que ela goste tanto de mim, como eu gosto do meu pai. E sem facilitar: com todas as dificuldades, confrontos, discussões e espinhos afins que acontecem e existem no crescimento de uma pessoa. Os pais também crescem com os filhos...

O Mark Twain disse esta coisa deliciosa:

"Quando eu era um garoto de 14 anos, o meu pai era tão ignorante que eu mal conseguia suportar ficar perto daquele senhor. Mas quando completei 21, fiquei estarrecido com quanto ele tinha aprendido nesses sete anos". E eu revi-me nestas palavras com um grande sorriso!...

Das poucas coisas em que acredito, acredito que o que se dá, recebe-se de volta. São sem dúvida amores distintos, mas intensos e, assim o espero, para sempre, como é o meu para com o meu pai.

De um filho agradecido, como o teu também te está de certeza.
Abraço!

Artur Guilherme Carvalho disse...

Obrigado Helder. Abraço