sábado, 22 de janeiro de 2011

CHÃ DÔ


O Tempo avança depressa como uma bola a descer uma rampa. O carrinho de rolamentos há muito que apodreceu na memória de um canto num quintal esquecido. Ainda conseguimos ouvir o rock num rádio de um carro e sorver uma cerveja a correr como passageiros apressados entre dois comboios. Vieram as obrigações e a seguir os filhos. Veio o trabalho que nos devora sem piedade e a Lógica desta existência que de lógico não tem nada. Foram-se alguns amigos, depois alguns pais. Vieram as maleitas próprias da idade e as crianças que se transformaram em adultos sem que déssemos conta.
Mas…nós ficámos. Ficámos juntos apesar de tudo, das várias transformações, dos que já morreram, do tempo que perdemos sem tempo para nós. De vez em quando conseguimos celebrar a vida, a riqueza de nos conseguirmos juntar. Num bar de sempre, cujas paredes brancas se foram tornando castanhas com o fumo dos cigarros e as frases de ocasião escritas entre cartazes e quadros cada vez menos legíveis. Ficámos nós personagens de romances, pendurados em memórias e dúvidas, sentimentos e mágoas. Ficámos nós, de carne e osso em cenários inventados…ou personagens inventados em círculos de realidade.
E, quando formos, levaremos esta realidade na consciência. Este crescimento acompanhado de décadas que insiste em se manter vivo. Este envelhecer entre amigos que as décadas nunca conseguiram afastar.

Artur

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