segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

IT'S A WONDERFUL LIFE


DO CÉU CAÍU UMA ESTRÊLA

Frank Capra

EUA, 1946

Voltar aos clássicos de vez em quando pode ser um exercício refrescante, como que uma bolha de tranquilidade na agitação do pensamento. Recordar DO CÉU CAÍU UMA ESTRÊLA é voltar a uma infância de escola primária em que a televisão exibia em muito menor número de alternativas um nível de qualidade que nunca mais recuperou. Filme extremamente adequado ao Natal e para todo o tipo de audiências, ao mergulhar no espaço de uma pequena comunidade americana do pós-guerra, a inocência da sua proposta está longe de ser gratuita na medida em que toda a base do argumento assenta na eterna luta moral da existência humana. Praticar o Bem num espaço agreste e cujas regras dificilmente deixam vislumbrar o devido retorno transforma a bondade em desespêro.
O eterno homem comum da época (James Stewart) é salvo do suicídio à última da hora por um aspirante a anjo da guarda em trabalho para merecer as suas asas. Contrariado, o ex-suicida não aceita o seu salvamento, chegando mesmo a afirmar que nunca deveria ter existido. Fazendo-lhe a vontade o anjo resolve mostrar-lhe como seria aquele pequeno universo caso a sua ausência fosse real. A partir daqui o protagonista vai ser confrontado com um sem número de situações arrepiantes e deprimentes que assolam tanto a comunidade como as pessoas que lhe estavam próximas. Ao longo da história as duas lições do anjo vão ganhando forma: convencendo o renitente suicida: “ Nenhum homem é um fracasso se tiver amigos” e “todas as vidas de qualquer um interferem nas dos outros”.
O filme termina em happy end inevitável, não sem antes percorrer toda uma equação emocional aqui e ali pontuada de forte intensidade. (Re)visionar este filme é recordar com alguma emoção o tempo da inocência mas também é uma chamada de atenção em relação à vantagem de seguir o caminho “realista” da facilidade de sermos egoístas, gananciosos ou moralmente indignos. A eterna luta da consciência humana onde cabem todas as teorias e todas as respostas. A simplicidade do filme é comovente sem ser simplória na medida em que equaciona a razão da existência, bem como a melhor maneira de a gerir. Não é por acaso que tanto o realizador como o actor principal consideraram este filme como o mais importante das suas carreiras.
Ver DO CÉU CAÍU UMA ESTRÊLA, é fazer parar o tempo e sentir uma brisa de boa vontade e entendimento tão necessário para a nossa vida diária. Se a vida não tem sentido nenhum, então não há nenhuma razão para não fazermos dela um espaço de amor e solidariedade.

ARTUR GUILHERME CARVALHO

2 comentários:

redjan disse...

O curioso Art .. é que o modo como vês a coisa, analisas e transpões... leva-nos num passeio de mão dada que não apetece acabar.

Acho que se analisasses um Belenenses-Penafiel ... até aí arranjavas maneira de nos apetecer vê-lo.

Falas de coisas que sabes ... e dás vontade a que os outros saibam um pouco também.

Essa é a parte em que escreves de mão solta ... e nos levas um pouco dentro de ti ..

Gracias !!!

Artur Guilherme Carvalho disse...

Obrigado Jan. O conhecimento das coisas só faz sentido desde que não morra em ninguém. Por isso tem de ser partilhado. 1 abraço