terça-feira, 15 de julho de 2008

Releituras: #3 "Se Vós Entrais"


Vem, muito naturalmente, até às portas da percepção e, do mesmo singelo passo, as tentarás transpor. Concedo. É também natural, que, aí chegado, queiras - pois, porque não? - ultrapassar o que tolhe e em flor s'espraia, multicor. Nem são as coisas deste mundo que t'importam; sabes - mesmo que ignorar não fosse, como é, impossível - que entrando no balanço da onda, o caleidoscópio é ainda vertigem. Que a vertigem é, d’igual, abismo. Que este é um descer às fundas profundas e que dele, do abismo, apenas sobrevém - diria sobrevive - a morte.
Tudo isso sabes, pelo exemplar exemplo d'outros fantasmas que passam, verdescentes, ou que guardas na memória, mesmo naquela recôndita. Porque viste tantos desses nem te preocupas em pensar que breve engrossarás as fileiras. Ademais, como resistir à fronteira, àquele limiar não mais umbrado? Qualquer, na tua exacta situação faria o mesmo; qualquer, se de símile sorte e ventura, não pestanejaria, porquanto todos temem que a mais breve desatenção desvie o rumo d'onerosa alvura, d'essencial essência do que virá; ao encontro almejado; esse cerne sagrado-profano que compensará tantos futuros - mas certos - agravos, penas e humilhações. Ora - isto é importante - é necessário estar maximamente desperto para s'alcandorar à transcendência, à paz suprema e final, serenidade de mil fontes raiadas, enfim, paraíso transideral onde se transgride esse famigerado limite que, desde há séculos, nos roubou as coisas no em si de si próprias para nos devolver um mero teatro cambado, adulterado, onde faíscam pálidas luzes que lambuzam o céu de falsa feérica coloração.
Colocada a questão nestes termos, o que t'impede de cumprir o inevitável destino de, por menos qu'em fugazes momentos, ser completa e infindamente feliz?

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