Infelizmente o filme repete-se,
por estes dias a uma cadência mais intensa, não deixando nunca de ser sempre o
mesmo filme. Pessoas comuns são apanhadas no meio da sua vida normal por vagas
inesperadas de violência, destruição e morte. Do outro lado estão também
pessoas comuns que a frustração, o fanatismo e uma totalmente distorcida noção
de justiça empurraram para uma acção final, um suicídio disfarçado de várias
coisas desde a religião até à política passando pela vingança.
No fundo, se lhes forem dadas
condições para isso, tudo o que as pessoas comuns ambicionam é ter uma vida
comum. Ter um tecto, trabalhar, descontrair com os amigos, ir ao cinema ou ao
futebol, ver crescer os filhos, etc. E porquê? Porque tudo isso acabará um dia
e mais vale aproveitar os bons momentos. Bons e banais.
Mas desde cedo que nos vão
incutindo um conceito de menoridade acerca de nós mesmos. Uma menoridade que
deve apenas obedecer, submeter-se e aceitar a “ordem natural das coisas”. Uma
“ordem” onde tudo está no seu devido lugar e nada deve ser mudado. E para
aliviar a frustração dessa condenação à
menoridade arranjam-se clubes de
gente menor que se junta julgando-se menos menor. Clubes de futebol, partidos
políticos, religiões, etc, etc. Associações que só fazem sentido se organizadas
contra outras associações. Clubes de gente menor contra clubes de gente menor.
E sobre tudo isto um controle gigantesco de meia dúzia de espertos por culpa
(directa ou indirecta…é indiferente) de quem homens banais assassinam outros
homens banais.
Liga-se o filme e dispara o
folclore do medo mas também da hipocrisia. Sociedades que passam o tempo a
alimentar ou intervir em guerras noutros países, sociedades onde o roubo, a
mentira e a injustiça são uma constante do dia-a-dia, aproveitam estes momentos
do medo colectivo para reforçar a sua defesa da Liberdade e da Democracia em
desprezo pelos direitos dos seus cidadãos, ladainhas e larachas de protecção
depois de terem falhado no acto de proteger, lideranças reforçadas e liberdades
congeladas. O filme vai seguindo, saltando da ignorância para o medo e do medo
para o ódio. Comentadores televisivos chafurdam nas notícias cantigas de
indignação e profundo pesar, lambem os egos, debitam banalidades. Não são os
chefes políticos nem os religiosos que sujam as mãos, os corpos e as almas. São
as pessoas banais que os elegem e alimentam a sua autoridade de merda que
depois os elimina.
O ódio nasce do medo que por sua
vez é filho da ignorância. E antes de tudo isso há a propaganda, o atestado de
menoridade sobre a maioria dos cidadãos. Quando homens banais decidem
assassinar homens banais que nem sequer conhecem, então, mais do que a
banalidade do ódio, vive-se a banalidade da insanidade mental.
Infelizmente essa insanidade está
sempre disponível nas mãos dos nossos dirigentes políticos e religiosos e é
ligada sempre que eles necessitem de reforçar a sua autoridade.
Nunca falha. Guerras com todas as
razões e todos os formatos adequados são registadas na loucura da Humanidade ao
longo do tempo sem que se tenha perdido a eficácia do ódio banalizado e
controlado.
Ontem foi em Paris…
Artur
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