sábado, 14 de novembro de 2015

A BANALIDADE DO ÓDIO





Infelizmente o filme repete-se, por estes dias a uma cadência mais intensa, não deixando nunca de ser sempre o mesmo filme. Pessoas comuns são apanhadas no meio da sua vida normal por vagas inesperadas de violência, destruição e morte. Do outro lado estão também pessoas comuns que a frustração, o fanatismo e uma totalmente distorcida noção de justiça empurraram para uma acção final, um suicídio disfarçado de várias coisas desde a religião até à política passando pela vingança.
No fundo, se lhes forem dadas condições para isso, tudo o que as pessoas comuns ambicionam é ter uma vida comum. Ter um tecto, trabalhar, descontrair com os amigos, ir ao cinema ou ao futebol, ver crescer os filhos, etc. E porquê? Porque tudo isso acabará um dia e mais vale aproveitar os bons momentos. Bons e banais.
Mas desde cedo que nos vão incutindo um conceito de menoridade acerca de nós mesmos. Uma menoridade que deve apenas obedecer, submeter-se e aceitar a “ordem natural das coisas”. Uma “ordem” onde tudo está no seu devido lugar e nada deve ser mudado. E para aliviar a frustração dessa condenação à  menoridade  arranjam-se clubes de gente menor que se junta julgando-se menos menor. Clubes de futebol, partidos políticos, religiões, etc, etc. Associações que só fazem sentido se organizadas contra outras associações. Clubes de gente menor contra clubes de gente menor. E sobre tudo isto um controle gigantesco de meia dúzia de espertos por culpa (directa ou indirecta…é indiferente) de quem homens banais assassinam outros homens banais.
Liga-se o filme e dispara o folclore do medo mas também da hipocrisia. Sociedades que passam o tempo a alimentar ou intervir em guerras noutros países, sociedades onde o roubo, a mentira e a injustiça são uma constante do dia-a-dia, aproveitam estes momentos do medo colectivo para reforçar a sua defesa da Liberdade e da Democracia em desprezo pelos direitos dos seus cidadãos, ladainhas e larachas de protecção depois de terem falhado no acto de proteger, lideranças reforçadas e liberdades congeladas. O filme vai seguindo, saltando da ignorância para o medo e do medo para o ódio. Comentadores televisivos chafurdam nas notícias cantigas de indignação e profundo pesar, lambem os egos, debitam banalidades. Não são os chefes políticos nem os religiosos que sujam as mãos, os corpos e as almas. São as pessoas banais que os elegem e alimentam a sua autoridade de merda que depois os elimina.
O ódio nasce do medo que por sua vez é filho da ignorância. E antes de tudo isso há a propaganda, o atestado de menoridade sobre a maioria dos cidadãos. Quando homens banais decidem assassinar homens banais que nem sequer conhecem, então, mais do que a banalidade do ódio, vive-se a banalidade da insanidade mental.
Infelizmente essa insanidade está sempre disponível nas mãos dos nossos dirigentes políticos e religiosos e é ligada sempre que eles necessitem de reforçar a sua autoridade.
Nunca falha. Guerras com todas as razões e todos os formatos adequados são registadas na loucura da Humanidade ao longo do tempo sem que se tenha perdido a eficácia do ódio banalizado e controlado.
Ontem foi em Paris…

Artur                                                                                                                


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