PRIDE
Matthew Warchus
Reino Unido /França, 2014
Em tempos de intolerância e
dificuldade os homens tendem a descobrir-se uns aos outros, a juntar-se e
combater o seu inimigo comum sob pena de não sobreviver. A união improvável
entre grupos distintos e que (aparentemente) nada tinham em comum, a greve
histórica dos mineiros galeses nos negros tempos de Margaret Thatcher na década
de 80 e as assimetrias “of class and
culture” esbatidas por pontes de solidariedade e tolerância do “outro”,
além de já não serem novidade nenhuma no cinema britânico, podem perfeitamente
constituir um género fílmico. BRASSED OFF e BILLY ELLIOT saltam de imediato à
memória logo nos primeiros instantes de PRIDE. Em mais uma visita a esses
tempos voltamos ao braço de ferro que durou quase um ano entre o sindicato dos
mineiros (NUM) e a então chefe do governo britânico Margareth Thatcher, ao
tempo em que um homossexual teria direito de voto a partir dos 18 anos mas não
à sua opção sexual antes dos 21. Entre manifestações e pancadaria, intolerância
e reivindicações, um grupo da comunidade gay decide apoiar as famílias dos
grevistas com recolha de fundos em Londres. Apesar deste acto generoso a
comunidade mineira é que não se mostra muito receptiva à iniciativa. Por
preconceito, por interpretação de sinal de fraqueza ou, muito simplesmente por
ignorância as várias organizações e sindicatos vão declinando o apoio. Por fim,
após uma série de mal entendidos e uma ligação telefónica péssima, uma aldeia
no Sul do País de Gales resolve convidar os elementos do GLSM (Gays and
Lesbians Support the Miners) para um encontro no seu clube local. Aos poucos a
resistência vai-se esfumando entre uma comunidade rural fechada sobre si
própria e um grupo de jovens expansivos e exuberantes. À medida que a cerveja
começa a rolar as pontes vão sendo construídas e rapidamente se percebe que têm
todos muito mais a ganhar unidos do que virados de costas uns para os outros.
Baseada em factos reais, mais do
que a história em si, a forma brilhante como está contada é a grande
responsável pelo charme, brilho e ternura deste filme. Misturando momentos mais
dramáticos com outros de humor em doses e quantidades adequadas, diálogos construídos de forma inteligente e
um respeito absoluto pelo tempo histórico que pretende retratar fazem de PRIDE
um momento raro de bom Cinema.
Com o desenrolar do tempo o
comité do sindicato decide votar uma proposta em que deixa de aceitar o apoio
do GLSM à greve dos mineiros. Embora ignorando essa restrição o movimento fica
temporariamente fragmentado e alguns seguem o seu caminho. Meses mais tarde no
início da primeira e gigantesca marcha do orgulho gay em Londres (1985) a
surpresa é enorme quando vários autocarros de mineiros vindos de todas as
partes do País de Gales chegam para se juntar. Entre cartazes, faixas e
bandeiras, nessa tarde em Londres os sindicatos apoiaram os direitos e a luta
da comunidade gay para a sua emancipação total enquanto cidadãos. Mais tarde o
Partido Trabalhista viu-se obrigado a incluir no seu programa eleitoral uma
directiva em que se comprometia em legalizar e integrar em absoluto a
comunidade gay enquanto parte integrante da sociedade britânica. Se bem que
essa directiva já houvesse sido aprovada em congressos anteriores, até essa
altura não tinha sido inscrita no programa eleitoral. Para tal contribui muito
o peso e o voto dos sindicatos dos mineiros. Esta é mais uma prova de que somos
todos uma espécie única, tendo apenas uma identidade. É quando nos dividimos ou
nos deixamos dividir que perdemos a força e a capacidade de resistir. Uma lição
que a História já nos ensinou mil vezes e que, outras mil insistimos em
esquecer. A grande vantagem do curso da Humanidade é que ninguém chumba nas
cadeiras. Repete e repete e volta a repetir até perceber. Apesar de se reportar
aos anos 80 do século passado, a lição de PRIDE nunca foi tão actual como
agora. Por isso o filme é uma extraordinária lição de vida.
Artur Guilherme Carvalho
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