sexta-feira, 17 de julho de 2015

PRIDE

PRIDE

Matthew Warchus

Reino Unido /França, 2014

Em tempos de intolerância e dificuldade os homens tendem a descobrir-se uns aos outros, a juntar-se e combater o seu inimigo comum sob pena de não sobreviver. A união improvável entre grupos distintos e que (aparentemente) nada tinham em comum, a greve histórica dos mineiros galeses nos negros tempos de Margaret Thatcher na década de 80 e as assimetrias “of class and culture” esbatidas por pontes de solidariedade e tolerância do “outro”, além de já não serem novidade nenhuma no cinema britânico, podem perfeitamente constituir um género fílmico. BRASSED OFF e BILLY ELLIOT saltam de imediato à memória logo nos primeiros instantes de PRIDE. Em mais uma visita a esses tempos voltamos ao braço de ferro que durou quase um ano entre o sindicato dos mineiros (NUM) e a então chefe do governo britânico Margareth Thatcher, ao tempo em que um homossexual teria direito de voto a partir dos 18 anos mas não à sua opção sexual antes dos 21. Entre manifestações e pancadaria, intolerância e reivindicações, um grupo da comunidade gay decide apoiar as famílias dos grevistas com recolha de fundos em Londres. Apesar deste acto generoso a comunidade mineira é que não se mostra muito receptiva à iniciativa. Por preconceito, por interpretação de sinal de fraqueza ou, muito simplesmente por ignorância as várias organizações e sindicatos vão declinando o apoio. Por fim, após uma série de mal entendidos e uma ligação telefónica péssima, uma aldeia no Sul do País de Gales resolve convidar os elementos do GLSM (Gays and Lesbians Support the Miners) para um encontro no seu clube local. Aos poucos a resistência vai-se esfumando entre uma comunidade rural fechada sobre si própria e um grupo de jovens expansivos e exuberantes. À medida que a cerveja começa a rolar as pontes vão sendo construídas e rapidamente se percebe que têm todos muito mais a ganhar unidos do que virados de costas uns para os outros.
Baseada em factos reais, mais do que a história em si, a forma brilhante como está contada é a grande responsável pelo charme, brilho e ternura deste filme. Misturando momentos mais dramáticos com outros de humor em doses e quantidades adequadas,  diálogos construídos de forma inteligente e um respeito absoluto pelo tempo histórico que pretende retratar fazem de PRIDE um momento raro de bom Cinema.
Com o desenrolar do tempo o comité do sindicato decide votar uma proposta em que deixa de aceitar o apoio do GLSM à greve dos mineiros. Embora ignorando essa restrição o movimento fica temporariamente fragmentado e alguns seguem o seu caminho. Meses mais tarde no início da primeira e gigantesca marcha do orgulho gay em Londres (1985) a surpresa é enorme quando vários autocarros de mineiros vindos de todas as partes do País de Gales chegam para se juntar. Entre cartazes, faixas e bandeiras, nessa tarde em Londres os sindicatos apoiaram os direitos e a luta da comunidade gay para a sua emancipação total enquanto cidadãos. Mais tarde o Partido Trabalhista viu-se obrigado a incluir no seu programa eleitoral uma directiva em que se comprometia em legalizar e integrar em absoluto a comunidade gay enquanto parte integrante da sociedade britânica. Se bem que essa directiva já houvesse sido aprovada em congressos anteriores, até essa altura não tinha sido inscrita no programa eleitoral. Para tal contribui muito o peso e o voto dos sindicatos dos mineiros. Esta é mais uma prova de que somos todos uma espécie única, tendo apenas uma identidade. É quando nos dividimos ou nos deixamos dividir que perdemos a força e a capacidade de resistir. Uma lição que a História já nos ensinou mil vezes e que, outras mil insistimos em esquecer. A grande vantagem do curso da Humanidade é que ninguém chumba nas cadeiras. Repete e repete e volta a repetir até perceber. Apesar de se reportar aos anos 80 do século passado, a lição de PRIDE nunca foi tão actual como agora. Por isso o filme é uma extraordinária lição de vida.


Artur Guilherme Carvalho





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