segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Á MEMÓRIA DE RENATO ROCHA



Às vezes a vontade desliga, ficamos perdidos ente o Passado e o Presente e vemos abrir-se à nossa frente uma estrada sem regresso, numa única direcção. Ser ou ter sido músico de Rock ‘n Roll não é uma actividade como outra qualquer. É uma religião, um culto estabelecido durante um período de tempo aos deuses da Liberdade e da Solidariedade entre os seres. Uma religião com os seus rituais, os seus santos…os seus mártires. Renato Rocha (Negrete), o antigo baixista dos Legião Urbana, não foi o primeiro nem será com certeza o último no desfile dos ícones desta religião. Um quarto esquecido no anonimato de um hotel de periferia, uma relatório pericial, um testemunho de uma última pessoa que falou com ele em vida, uma paragem cardíaca. Um somatório de banalidades que, todos juntos, não conseguem desenhar a primeira letra do seu nome. Renato Rocha terminou ali mas para trás foi grande. Foi baixista e compositor do Legião Urbana, mítica banda do B Rock, o Rock brasileiro dos anos 80 ao lado de Renato Russo, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá. O mundo deu várias voltas, a banda terminou pouco depois da morte de Renato Russo. Há um ano ou dois atrás uma reportagem de televisão dava conta que o famoso Negrete vivia no meio da rua. Familiares, antigos companheiros da banda, todos falaram mas ninguém contava muita coisa. As palavras ficavam no ar a desenhar frases vagas. Problemas de dependência com álcool e drogas, distúrbios psicológicos. O próprio também não adiantava muito. Surgiu a ideia de internamento numa clínica com a anuência do principal interessado. A primeira reportagem terminava aí. Numa segunda reportagem ficamos a saber que o internamento havia durado apenas alguns dias. Renato tinha deixado a clínica. No ano de 2014 Renato é convidado para participar no projecto Urbana Legion onde regressa aos palcos para tocar os sucessos do passado. Ultimamente andava em tratamento numa clínica de recuperação. Tinha possibilidade de sair aos fins-de-semana. Foi num fim-de-semana que o seu coração parou. Tinha 53 anos, dois filhos e uma neta.
Que importa a forma como desaparecemos? Que importam os detalhes do último dia? Nada. Está tudo no culto, no som, na força do Rock, na electricidade, na batida, nas luzes, no público. Está tudo nesses breves instantes em que os deuses nos deixam sentar à sua mesa.

Artur Carvalho





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