sábado, 22 de novembro de 2014

HORIZONTE



Podia ser uma nave espacial a vogar pelo espaço da consciência colectiva…podia ser o depósito da frota onde se encontram a memória e a identidade…podia chamar-se “Resistência”. E felizmente a “Resistência” está de volta cumprindo o seu papel, entre revisões de canções antigas e novas propostas, reforçando a imprevisibilidade do futuro. Com “Horizonte” alinham-se onze temas compostos por uma equipa de onze elementos, músicos profissionais com trajectos individuais e agendas preenchidas que ocasionalmente se conseguem encontrar e trabalhar em conjunto. Momentos únicos num projecto único no panorama musical e cultural do país. “Resistência” é o seu espírito e nunca um conceito foi tão apropriado como este.
Podia ser uma banda de uma geração centrada sobre si própria e a sua história, instalada na obra dos seus elementos e na sua notoriedade. Em vez disso o projecto estabelece pontes com passado, na medida em que assinalando a influência trovadoresca (a expressão do acústico, a madeira das guitarras, a importância das palavras) e recuperando autores mais antigos (José Afonso), consegue cativar e convencer as novas gerações que não hesitam em encher auditórios e vibrar com as músicas feitas quando ainda não eram nascidas.
Num tempo em que linguagem, identidade, sociedade, democracia, inconsciente colectivo, individualidade, humanismo e liberdade são conceitos vagos empurrados para uma linguagem subversiva quase proibida, a resistência mantém essa chama que arde na imensa escuridão. Canta-nos canções de Liberdade, ensina-nos que tudo é possível quando damos as mãos, conta-nos histórias de amor. As canções de Rádio Macau, Xutos e Pontapés, Delfins, Madredeus e Banda Cósmica, Tim ou Pedro Ayres, são os elementos dessa pálida aguarela onde uma carrinha antiga segue na estrada a caminho do horizonte.
A sonoridade única é a habitual composta por seis guitarras, um baixo, uma bateria, percussões e voz.
Assistir a um concerto desta banda é uma experiência única e inesquecível. Todos o devíamos fazer pelo menos uma vez.


Artur 



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