quinta-feira, 27 de agosto de 2009

UM TEMPO

E no entanto houve um tempo, houve qualquer coisa lá atrás perdida no passar do caminho que nos fez viver, sentir… Houve qualquer coisa lá atrás que se fixou em nós como um passeio ao fim da tarde à beira mar com dedos entrelaçados, gestos hesitantes inacabados de um pudor reclamado pelo pisar de terra desconhecida. E no entanto houve mundo e vida nessa antevisão de uma partilha que dividia a tranquilidade entre nós. Lá atrás no pó da estrada ficou esse tempo que nos obrigou a continuar o caminho, esse gesto no ombro, essa palmada que explicava que não estava sozinho, esse momento amigo que fazia passar o frio. Um tempo em que o grito foi mais longe que a vontade e a palavra mais forte que a ideia. Um tempo perdido em caminhos sem saída, dias esbanjados na inútil tarefa de sobreviver, de baixar a cabeça no carreiro, de balir no tempo da carneirada. Na travessia desta realidade que não é real, em que a dignidade se vende e mente, e viola por três míseras moedas, onde não somos de nenhum lugar se nos pusermos a pensar, a tentar clarear os dias. E no entanto houve um tempo. O tempo de sermos nós apesar do resto, o tempo de sentirmos a vida sem máscaras nem promessas falsas de bem-estar enlatado. Houve e há um tempo. Há sempre o Tempo de sermos Nós…
Artur

3 comentários:

Clarice disse...

... basta querer!

*Muito bonito, Artur! Parabéns!

Carlos Lopes disse...

Oi, rapaz! Cá estamos NÓS, uma vez mais. Com que então poemas ao pequeno-almoço... Boa ideia. Um abraço.

Anónimo disse...

ler todo o blog, muito bom