domingo, 7 de abril de 2024

É DOMINGO

 



Aqui também é domingo e os sinos já tocaram. O frasco de café está quase a acabar e eu conto cada colherada até ao último contacto. Não guardo fotografias nem rancores, fecho as portas destas memórias bem fechadas atrás de mim e construo novos caminhos sobre os mais antigos, aqueles que existiam muito antes de nós. Acordei para ver mais um episódio de Little Bird e com eles fiz a cerimónia de despedida do Niizh. O vento continua a soprar e eu tenho mais pontos para contar no meu primeiro pano de arraiolos. Os animais, um a um vêm saudar-me, as árvores dançam a valsa do vento de oeste e o pinheiro bravo maior mantém-se de pé apesar da ferida que trespassa a casca até ao cerne. Tem mais de duzentos anos e guarda a paisagem até ao florescimento da última pinha.
Aqui estamos, no sétimo dia do quarto mês de dois mil e vinte e quatro, entre guerras e pesares, alegrias e mal estares, nesta janela que requer um paninho com vinagre para limpar a vista salpicada de maresias e poeiras, em vésperas de eclipse solar parcial (só)aqui nos Açores. Entretanto é altura de colher as pétalas de flor de laranjeira espalhadas pelo chão para tisanas de noites tranquilas. É domingo.

Elsa Bettencourt

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