sábado, 25 de março de 2023

ROMEIROS


 


Vigésimo quinto dia do terceiro mes de dois mil e vinte e três.
Há quinhentos anos, entre a terra que tremia e a lava que escorria, tudo começou e acalmou a cada prece, a cada passo, dado com fé.
É impossível, mesmo sem credo, não nos sentirmos tocados pela pacificação que emana destes ranchos de romeiros que percorrem a ilha do Arcanjo nas sete semanas da quaresma.
Respondendo ao chamado do Filho percorrem as casas da Mãe. Rezam pelas almas dos seus e dos outros. Agradecem venturas e podem perdão, seguem cobertos por um xaile e um lenço de flores, com um saco ao ombro, um terço ao pescoço, outro na mão, e como apoio um bordão.
Com o pensamento e o coração nas romarias desta vida me recolho à concha da minha. São tempos de pesar, de trabalhar e aceitar o peso da cruz que se carrega até que seja leve, até que a alma se molde à sustentável medida de sermos como somos, sem artifícios nem desejos de queremos ser outros que não nós e com os dedos que apontam unidos aos outros em oração.


Elsa Bettencourt

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