quinta-feira, 13 de maio de 2021

ATÉ AO BOSQUE DE POEMAS

 

 
 
Décimo dia do quinto mês de dois mil e vinte um. Cada dia me faz menos sentido usar o ecrã senão para dar os abraços que não posso dar pessoalmente porque vocês estão longe. Creiam que me continuo a mover nesta pequena ilha como antes pelo planeta. E que a forma como o faço, e o que que me impele, vem do lugar onde o meu coração está plantado.
Quando cheguei mal tinha forças para pegar numa mala de dez quilos. Toda a minha estrutura se desmanchava, se dobrava, com risco de se partir. Caí duas vezes no meio do terreno, de costas, e fiquei plantada a olhar para as estrelas. Era noite e tinha chovido, era de dia e eu não olhava para os pés. Hoje a tão negligenciada memória muscular é como o bordão dum romeiro, como a bengala dum cego. A terceira vez que caí arranjou-se o joelho direito que tanto incomodava. A rótula fez clac quando a perna ficou debaixo de mim, et voilá! Tudo deixou de doer.
Além de todos os episódios que me enfraqueceram para depois me fortalecer, apareceram-me uns anjos que me dão a mão da forma mais surpreendente. Deixei de ter dúvidas sobre o que mais me encanta nas pessoas e deixei de ter medo disso mesmo. E com este pensamento continuo a amanhecer.
 
Elsa Bettencourt



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