domingo, 8 de julho de 2012

O CLARIM DA REVOLTA



TAPS

Harold Becker

 EUA, 1981



Tudo corria bem na  Academia de Bunker Hill até ao dia em que uma péssima notícia veio abalar a paz do seu normal funcionamento. O conselho de accionistas anuncia que os terrenos da academia irão ser vendidos para dar lugar a uma estrutura de condomínios. O seu encerramento terá lugar imediatamente após o fim do corrente ano escolar. O seu director, o general Bache, promete que fará tudo o que estiver ao seu alcance para manter a escola aberta. O general acabará por sofrer um trágico acidente que o irá levar ao hospital. Com o director fora do caminho, o conselho resolve antecipar as suas ambições e decreta o fecho imediato da escola. Sem o seu líder, sem a mais forte esperança de impedir  o encerramento da sua escola, os cadetes mais antigos decidem barricar-se lá dentro. O comandante do batalhão, Brian Moreland (Timothy Hutton) comanda toda a operação, tanto na defesa da continuidade da escola como na intenção de honrar o general Bache, mesmo que para tal tenham de recorrer à utilização de armas de fogo.

Este é em síntese o drama central de TAPS (que em Portugal ficou traduzido como: O CLARIM DA REVOLTA), um filme que 30 anos depois ainda se consegue visualizar confortavelmente, uma narrativa muito interessante que oscila entre o realismo e o romantismo. TAPS, a esta distância temporal, é também um filme de actores. Começando pelo gigante George C. Scott, que entrou para a história do cinema com a extraordinária interpretação do general Patton no filme com o mesmo nome, argumento de Francis Ford Copolla. Por outro lado, a escolha de Timothy Hutton para o papel do comandante dos alunos é feita logo após a atribuição do Óscar de melhor actor secundário pela sua actuação no filme ORDINARY PEOPLE. Com ele duas estreias de dois futuros gigantes da representação que acabarão por ultrapassar o seu comandante em popularidade. Um Sean Penn no papel do cínico e da má consciência do comandante, e por outro lado Tom Cruise num registo de grande intensidade, violento e desequilibrado. Imagens que ambos acabarão por afastar nos papéis futuros ao longo de carreiras triunfantes.

Os soldadinhos de brinquedo (com idades entre os 12 e os 18 anos) transformam-se então em soldados a sério, desenvolvendo uma operação de força tendente a forçar o “inimigo” a repensar a sua estratégia de encerramento da escola, ou pelo menos a encontrar uma solução de compromisso através de negociações com os alunos. E mais do que uma simples teimosia de jovens românticos, defendem os valores que lhes foram ensinados, o respeito pela honra do seu líder, a protecção da casa onde estudam e vivem, num exercício de dignidade até às últimas consequências. Não sendo rebeldes, nem invasores, nem inimigos do seu país, o que estes jovens acabam por fazer é dar um nó nas contradições do sistema. Colocam uma bandeira para assinalar o cruzamento entre a cartilha dos valores patrióticos e a hipocrisia da especulação gananciosa. O cerco começa então em frente aos portões da escola, com a Guarda Nacional os pais e os noticiários televisivos a tentarem dissuadir um extremamente motivado comandante a render-se.

Rodado em Valley Forge Military Academy na Pensilvânia oriental, o filme não encerra conclusões fáceis e está longe de nos dar alguma resposta simples. Se por um lado a conduta radical dos jovens cadetes é excessiva e quase irresponsável no que às consequências diz respeito, também não deixa de ser pertinente que, ao sentirem-se encurralados, não hesitaram em se defender. Em defender um modo de vida incompreensível para a maior parte do mundo exterior. Defesa essa que em muitos casos não consegue evitar a nossa simpatia…



Artur

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