TAPS
Harold Becker
Tudo corria bem na Academia de Bunker Hill até ao dia em que uma
péssima notícia veio abalar a paz do seu normal funcionamento. O conselho de
accionistas anuncia que os terrenos da academia irão ser vendidos para dar
lugar a uma estrutura de condomínios. O seu encerramento terá lugar
imediatamente após o fim do corrente ano escolar. O seu director, o general
Bache, promete que fará tudo o que estiver ao seu alcance para manter a escola
aberta. O general acabará por sofrer um trágico acidente que o irá levar ao
hospital. Com o director fora do caminho, o conselho resolve antecipar as suas
ambições e decreta o fecho imediato da escola. Sem o seu líder, sem a mais
forte esperança de impedir o
encerramento da sua escola, os cadetes mais antigos decidem barricar-se lá
dentro. O comandante do batalhão, Brian Moreland (Timothy Hutton) comanda toda
a operação, tanto na defesa da continuidade da escola como na intenção de
honrar o general Bache, mesmo que para tal tenham de recorrer à utilização de
armas de fogo.
Este é em síntese o drama central
de TAPS (que em Portugal ficou traduzido como: O CLARIM DA REVOLTA), um filme
que 30 anos depois ainda se consegue visualizar confortavelmente, uma narrativa
muito interessante que oscila entre o realismo e o romantismo. TAPS, a esta
distância temporal, é também um filme de actores. Começando pelo gigante George
C. Scott, que entrou para a história do cinema com a extraordinária
interpretação do general Patton no filme com o mesmo nome, argumento de Francis
Ford Copolla. Por outro lado, a escolha de Timothy Hutton para o papel do
comandante dos alunos é feita logo após a atribuição do Óscar de melhor actor
secundário pela sua actuação no filme ORDINARY PEOPLE. Com ele duas estreias de
dois futuros gigantes da representação que acabarão por ultrapassar o seu
comandante em popularidade. Um
Sean Penn no papel do cínico e da má consciência do
comandante, e por outro lado Tom Cruise num registo de grande intensidade,
violento e desequilibrado. Imagens que ambos acabarão por afastar nos papéis
futuros ao longo de carreiras triunfantes.
Os soldadinhos de brinquedo (com
idades entre os 12 e os 18 anos) transformam-se então em soldados a sério,
desenvolvendo uma operação de força tendente a forçar o “inimigo” a repensar a
sua estratégia de encerramento da escola, ou pelo menos a encontrar uma solução
de compromisso através de negociações com os alunos. E mais do que uma simples
teimosia de jovens românticos, defendem os valores que lhes foram ensinados, o
respeito pela honra do seu líder, a protecção da casa onde estudam e vivem, num
exercício de dignidade até às últimas consequências. Não sendo rebeldes, nem
invasores, nem inimigos do seu país, o que estes jovens acabam por fazer é dar
um nó nas contradições do sistema. Colocam uma bandeira para assinalar o
cruzamento entre a cartilha dos valores patrióticos e a hipocrisia da
especulação gananciosa. O cerco começa então em frente aos portões da escola,
com a Guarda Nacional os pais e os noticiários televisivos a tentarem dissuadir
um extremamente motivado comandante a render-se.
Rodado em Valley Forge
Military Academy na Pensilvânia oriental, o filme não encerra
conclusões fáceis e está longe de nos dar alguma resposta simples. Se por um
lado a conduta radical dos jovens cadetes é excessiva e quase irresponsável no
que às consequências diz respeito, também não deixa de ser pertinente que, ao
sentirem-se encurralados, não hesitaram em se defender. Em defender um modo de
vida incompreensível para a maior parte do mundo exterior. Defesa essa que em
muitos casos não consegue evitar a nossa simpatia…
Artur
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