quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Negro nevoeiro

Caminhamos pelas ruas desta cidade e a paisagem humana é cada vez mais pobre, mais agressiva, mais grosseira. Entrar numa grande loja ou supermercado é como tirar bilhete directo para filmes como o BLADE RUNNER. Replicantes por todo o lado, feios, gordos, porcos e maus. Trazem o olhar vazio e indiferente de quem está a centímetros de explodir sobre o próximo. Falam alto, atropelam-se nas filas, caminham em frente ( quem quiser que se desvie), sem rumo nem direcção. Aparentemente vão ás compras mas, olhando com um pouco maiis de atenção percebemos que nas compras e em casa se estão simplesmente a equipar para a guerra. Uma guerra na estrada com o primeiro incauto que se lhes atravessa no caminho. Uma guerra contra o outro, seja quem fôr. Uma guerra dentro da familia, onde se matam e maltratam crianças e idosos. Os animais de estimação deitam-se fora na beira da estrada no primeiro dia de férias. Os pais e avós despejam-se num lar qualquer no primeiro sintoma de incapacidade a pedir sacrifício, paciência e abnegação. Vivem-se tempos terríveis em que o desespêro deu lugar à indiferença. Uma indiferença fria e vingativa sempre na direcção dos mais fracos. Roubaram-nos a alma e só continuamos vivos por capricho da Natureza e porque (só enquanto) pagamos impostos. Das terras sai o hospital, a escola, os correios, a policia. Porquê ? Porque é muito caro. As crianças nascem nas estradas, as aldeias esvaziam-se de gente, a educação e a saúde são privilégios acessíveis a quem os puder pagar.Direitos ? Qu é isso ? Depois de nada haver deixa de haver gente, pessoas...deixa de haver um país. É o escuro depois do medo; é a morte depois do nada. Um dia destes acordaremos no meio do mar, mortos vivos desta tragédia que construímos e fizémos abater-se sobre nós.
ARTUR

1 comentário:

redjan disse...

Pessimista ?? O problema é que .. nada mesmo! Apenas as coisas como elas são ! E estupida, paulatina e lentamente, deixamos de perceber!

Como te compreendo Amigo!!