quarta-feira, 30 de setembro de 2009

O SR. SILVA PASSEIA O SEU ESPLENDOR

Ontem, dia 29 de Setembro de 2009, assistimos a um dos piores momentos da história democrática portuguesa. Refiro-me, como é óbvio, à comunicação ao país de Sua Excelência O Presidente da República, Professor Doutor Aníbal Cavaco Silva. Para quem ainda não percebeu, o senhor não está à altura do cargo que ocupa e, pelo contrário, toda a sua actuação se tem pautado por sucessivos desvios das contingências, deveres e responsabilidades implicados na magistratura que, infelizmente, exerce. No comunicado que ontem inflingiu à nação, ficámos todos a saber que acha normal que um seu assessor e homem "muito lá de casa" ande a semear pelos jornais suspeitas muito graves, na tentativa de manchar e contaminar a imagem dos governantes e outras figuras do PS. Todos pasmámos perante a classificação de "sentimento" aposta a essa actividade torpe e baixa de um indivíduo sumariamente demitido e desautorizado por esse mesmo acto. Já não nos admirámos tanto com esse afastamento: ao longo dos anos assistimos ao modo como o Prof. abandona e deixa cair a seu bel-prazer os serventuários que podem comprometê-lo neste ou naquele aspecto. Pessoalmente, causam-me arrepios aqueles corvos que pairam à volta de S. Excelência, aquelas eminências-menos-que-pardas que lhe fazem os recadinhos e realizam tarefas menos próprias de quem assume a postura de seriedade, ou que pensa que basta parecer sério para o ser. Ontem, ficou patente a raiva que já não pode ser contida, a secreta humilhação de ter que nomear um governo eleito pelo povo, quando gostaria de nomear a sua amiga Ferreira Leite, a quem fez todos os favores antes e durante a campanha eleitoral, subvertendo completamente do dever de inseção e equidistância do PR. Aliás, tenho para mim que o Sr. Dr. alimenta o desejo de reeditar a ambição formulada por Sá Carneiro nos anos 80: um presidente, uma maioria, um governo. Claro está, sem o talento e a "panache" do falecido... São apenas contas de mercearia, que alimentam a sua sede de poder e de glória.
Presumo que o Sr. Silva tenha em casa um espelho mágico que lhe devolve a imagem do Prof. Dr. Cavaco Silva, Presidente da República, garantia da estabilidade e da cooperação institucional, modelo de rigor, isenção e seriedade. Mas, como todos sabemos, os espelhos mentem e, nos últimos tempos ,aquilo que temos visto é uma figura manchada por "casos": Dias Loureiro, as acções do BPN, a "inventona" das escutas. O que vimos ontem foi uma figura patética que acha que o PR não pode ser escrutinado, nem criticado e que considera que pode fazer as declarações que fez num momento particularmente difícil para o país, em plena campanha eleitoral e a pouco tempo de nomear o governo. De seriedade, ética e equidistância estamos sobejamente conversados... De resto, Cavaco e Silva é só mais um tom de cinzento nestes dias de chumbo que são os nossos: ele e toda a classe política são co-responsáveis pelo estado de coisas a que chegámos e que são o resultado lógico de 30 anos de maus governos, incompetência generalizada da classe política, corrupção, subdesenvolvimento derivado da nojenta promiscuidade entre negócios e política (de que os seus amigos do BPN são um dos expoentes), expectativas e sonhos traídos de diversas gerações de portugueses. Quando o PR fala dos problemas do país esquece, mas nós não o deixaremos esquecer, que assistiu impávido e sereno ao desmantelar do estado social e ao ataque generalizado aos direitos e conquistas dos trabalhadores portugueses, levado a cabo pelo primeiro governo do Eng. José Sócrates. Só acordou quando sentiu beliscada uma pequena parcela daquilo que considera a sua coutada privada, ou seja, o estatuto político-administrativo dos Açores, que redundaria numa pequena diminuição dos poderes presidenciais. Acordou tarde, antes não tivesse acordado.
Sr. Presidente, por favor demita-se e vá para Boliqueime, para a vivenda Mariani ou para a marquise da Travessa do Possolo, gozar a reforma e ver passar o mundo que, manifestamente, não entende e que, reciprocamente, não o entende. Poupe-se às tristes e patéticas figuras que tem feito e que, provavelmente mal aconselhado, terá que continuar a fazer. Acabe a sua carreira política com a dignidade possível.

ARNALDO MESQUITA

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